Westworld - Crítica

Questionar a natureza de nossa existência nunca foi uma particularidade do pensamento moderno, considerado como o pai do existencialismo o filosofo Soren Kierkegaard já dizia que o ser humano é o próprio responsável por dar significado a sua existência, assim sendo, independente da natureza de nossa essência, significaria isso que qualquer ser que atinja uma consciência plena de sua própria existência poderia de fato imbuir-se de questionamentos existenciais tão válidos quanto os de qualquer outro ser?
É Partindo dessa premissa básica que temos em 1973 o Scifi Westwolrd (Westworld - Onde Ninguém Tem Alma) escrito e dirigido por Michael Crichton (Escritor de obras como Parque dos Dinossauros de 1990, O Enigma de Andrômeda de 1969, Devoradores de Mortos de 1999, dentre outros). Em 2014 tivemos o anuncio de que uma série baseada no filme homônimo estaria sendo produzida pela HBO, série essa que teve seu episódio piloto lançado esse ano nesse último dia 2 de outubro pelo canal.
Embora tenha como fonte o filme de 1973, a série da HBO se diverge em muitos aspectos, ora, fica claro que adaptações seriam necessárias visto que o que estamos vendo aqui é a conversão não se de formatos (de Cinema pra TV), mas também de tempo (1973 para 2016). Sendo algumas dessas mudanças nos personagens e roteiros, podemos até dizer que a série bebe da fonte do produto original, mas se limita a isso, apenas.
Westworld tem vários pontos a serem destacados, um dos primeiros e mais relevantes é o elenco que encabeça a produção, digno de um filme caro de Hollywood, aqui nós temos nomes como Anthony Hopkins (Dr. Robert Ford) e Ed Haris (The Man in Black) tomando toda a atenção da série, Jeffrey Wright (Bernard Lowie) e Thandie Newton (Maeve Millay) com atuações excelentes e temos até nosso querido Rodrigo Santoro (Hector Scaton), que finalmente tem uma chance de mostrar todo seu talento com bastante tempo de tela.
A série é riquíssima em personagens, tendo uma enorme quantidade deles espalhadas por todos os plots e subplots, curioso é que o roteiro usa justamente essa quantidade grande de personagens para brincar com seus pontos de vista sobre as nuances do comportamento humano.
O roteiro é escrito por Jonathan Nolan (irmão do Christopher Nolan) responsável por trabalhos como Memento (Amnésia) e Interestellar, ambos dirigidos por Christopher.
A trama embora complexa é bem enxuta e traz um intrínseco amalgama de questões existencialistas ao passo que ao mesmo tempo em que vemos sendo desenvolvidos o lado mais “humano” dos anfitriões, vemos também a “robotização” dos humanos diante de eventos que, por toda sua magnitude mereceriam uma atenção mais acurada e orgânica por parte de seus observadores presos em seus conceitos estáticos e determinísticos. A produção não nos oferece um mundo preto e branco, com personagens dicotômicos e bem delineados, pelo contrário, tanto no mundo real quanto no parque o que vemos são personagens profundos, cada um com seu drama e razões para serem quem são. As dicotomias, aliás, passam longe aqui. A série se distancia ao máximo do maniqueísmo simplório que estamos acostumados a ver, o que faz com que muitas vezes o “mocinho” ou “vilão” não sejam necessariamente quem você pensa que é.
Ainda que com toda a riqueza de personagens, a série precisa usar um deles como host para contar uma estória. É ai que entra Dolores Albernathy (interpretada pela belíssima Evan Rachel Wood). Sendo uma das androides mais velhas do parque, Dolores é a primeira anfitriã que demonstra sinais de “desordem” em sua programação, o que chama a atenção do programador Bernard Lowe, pois o que é considerado como falha para o Dr.Robert Ford, para Bernard trata-se de uma possível evolução no “sistema cognitivo” das máquinas, afinal de contas, estariam elas evoluindo para uma singularidade?
Westworld não limita seu nível de qualidade a apenas as atuações ou roteiro, o esmero técnico banha toda a produção do começo ao fim. A fotografia é excelente, de fato, assim como o roteiro ela brinca com nossas percepções. O mundo “irreal” onde habitam os anfitriões (os androides) é sempre bem mais vivo, cheio de cores e contrastes ao passo que o mundo dos humanos é sempre cinza metálico e “morto”, como se não houvesse vida ali, contraponto mais que interessante as nuances existencialistas que a série vende.
Por fim o que podemos observar é que, de fato, Westworld é uma série que chegou pra fazer a diferença. Afirmar que ela substituirá Games of Thrones, porém, é algo exagerado e sequer acredito que essa seja sua proposta original. Por se tratar de um scifi e com um tema mais complexo, a série tende a ter um público bem mais restrito (o que não significa um público pequeno, longe disso). Em se tratando de qualidade técnica, narrativa, roteiro e atuações a série até então não está pecando em nada, ainda é cedo para dizer com base apenas no piloto, mas ela tem tudo para ser uma das melhores séries de todos os tempos.