Batman Vs Superman - A Origem da Justiça - Crítica


O mundo real é cheio de nuances altamente complexas, nossas características como pessoas extrapolam qualquer padrão de entendimento o que nos leva a perceber que somos indivíduos difíceis de ser racionalizados, com atitudes intricadas, um verdadeiro passeio por diversos tons de cinza da moralidade do ser.
No entanto foi com o surgimento dos Super Heróis que viemos a nos acostumar com um conceito até então novo para todos, qual seria? Bem, tal conceito é mais que apenas um aspecto, ele é a personificação da ética, da bondade e da moralidade, assim sendo com a chegada dos Super Heróis nós idealizamos um mundo com seres bidimensionais que apenas se dividiam entre bem e mal, assim aconteceu por bastante tempo até a Marvel chegar com seus heróis mais complexos, cheios de problemas pessoais e desvios de caráter desvirtuando assim os conceitos (de Deuses entre nós) já estabelecidos por sua concorrente (DC comics).
Em Batman V Superman - A Origem da Justiça vemos basicamente um ensaio sobre ‘como seria na prática um alienígena ultra poderoso vivendo entre nós’. Na trama do Blockbuster dirigido por Zack Snyder temos uma continuação direta de Man of Steel (Também dirigido por ele) com o roteiro do David S. Goyer e assessoria do Christopher Nolan (Diretor da trilogia Batman Begins, Batman The Dark Knight e Batman The Dark Knight Returns). Alheio as HQs clássicas de um dos heróis mais icônicos do mundo, Snyder propõe aqui uma visão mais ‘dark’ e ‘realista’ de como a presença de um ser dessa extensão transformaria nossa realidade no campo politico, econômico, social e religioso. De fato ele acerta em vários fatores e erra alguns outros, embora seja um excelente diretor de ação, o mesmo peca quanto à adaptação do roteiro tomando saídas poucos inteligentes que quebram a narrativa da história.
Após a catástrofe em Metrópoles que deixou muitos mortos e feridos, Superman (Henry Cavill de volta ao papel) virou um ícone dentro do seu próprio universo, porém diferente da visão maniqueísta do personagem nas HQs dos anos 40, aqui nós temos uma população dividida entre Superman salvador e Superman demônio, até então tudo muito bem contextualizado dentro da proposta oferecida, pois até mesmo o espectador (que já conhece o herói de longa data) se questiona sobre o verdadeiro papel do herói no mundo e na sociedade. Ao mesmo tempo em que vemos o homem mais poderoso do mundo vivenciar sua crise existencial enquanto tenta fazer a coisa certa para a humanidade, somos apresentados a outro Herói que embora não possua super poderes está mais Super do que nunca. Aqui Bruce Wayne (Interpretado por Ben Affleck, que finalmente conseguiu se redimir de seu Demolidor de 2003) encarna um Batmanmais sisudo, impaciente e extremamente violento, ora, os tributos não só visuais, mas também comportamentais nos entregam de bandeja uma referencia direta ao Batman da clássica HQ Batman O Cavaleiro das Trevas do Frank Miller. Chamar o Batman de B v S de super herói não é nem de longe o mais correto a ser fazer, visto que ele está muito mais pra um Justiceiro Mascarado do que pra um de fato um Herói.

O filme começa bem, embora rodando mais uma vez o já tão repetida cena da ‘morte dos pais do garoto Bruce’, aqui tudo fica muito bem inserido e você entende a necessidade da cena para a construção do emocional do personagem, uma vez que Snyder resolve recontar de maneira prática e rápida origem o morcego através de flashbacks curtos e diretos. Um dos grandes problemas do filme começa justamente nesse ponto, a construção dos personagens, apesar de Bruce Wayne/Batman se mostrar de grande acerto por parte (grande parte deve-se a atuação de Affleck, que diria!?) da direção, temos um grande problema em todo  o resto. Ainda que a trama pareça se tratar do conflito dos dois maiores ícones das DC/warner, todos sabemos que a grande e real ameaça do filme deve-se ao antagonista/vilão que os mocinhos terão que enfrentar juntos no final das contas, porém é aqui que a coisa começa a desandar, pois para dois heróis tão distintos precisamos  também dois vilões bem distintos, Lex Luthor(Com TDAH) é o Master Mind (que acaba rivalizando mais com Batman que com o seu algoz vermelho e azul) enquanto o monstro Apocalipse fica com a vez dos punhos. Seria um acerto e tanto se tivesse sido bem executado, porém longe disso, o que tivemos foi um Lex Luthor que mais parecia uma mistura do Coringa do Heath Ledger com o Charada do Jim Carrey, pra piorar tudo com uma péssima performance do horrível Mark Zuckerberg  Jesse Eisenberg.
No entanto é até compreensível que com tantos personagens em cena fosse difícil de acertar a mão com alguns deles, porém o personagem que mais sofre nas mãos de Snyder é o próprio Superman, que ainda que na versão estendida tenha muito dos seus conflitos e ações justificados em função da trama, não lembra em nada o personagem das HQs clássicas ou o próprio Superman do Christopher Reeves.
Outro ponto chave do longa é a quantidade de plots e mini plots queimados dentro da trama principal, Snyder parecia ansioso para mostrar a que veio e pra fazer isso acabou criando um sopa de “adaptações” aos quadrinhos simplesmente jogadas dentro da história. Ora, se Cavaleiro das Trevas (1986) serviu como base para construção do Batman do Affleck, qual a função de “adaptar” Crise nas Infinitas Terras (1986), Uma Morte em Família (1988), A Morte do Superman (1992),  sobrando até para o jogo Injustice ?!
Contudo, o filme é visualmente deslumbrante e as cenas de ação são de encher os olhos, detalhe em que o Nolan pecava à beça. Com um pouco de ‘amor no coração’ podemos desconsiderar os furos de roteiro, os personagens jogados e uma trama altamente inconsistente e com grandes problemas de ritmo. O que nos leva a uma pergunta bem polemica; o que a Mulher Maravilha faz no meio desse filme? Oras, está claro que ela esta lá para promover seu filme solo, porém o pouco tempo de tela que ela teve foi muitíssimo bem aproveitado, em parte pela interpretação sensacional da Gal Gadot que encarnou de verdade a princesa guerreira Diana Prince, mas vamos combinar que ou ela não precisaria estar presente ou ela deveria ter recebido mais atenção. Enfim, um filme com uma grande proposta, mas que não entregou nem um terço do prometido, entretanto vale pelo Batman e pela Mulher Maravilhosa, o resto é o resto.