1 Contra Todos (2016) : Crítica

Quando Breaking Badsurgiu em 2008 a série trouxe consigo uma corrente de novos conceitos que até então eram desconhecidos do grande público, Vince Gilligan se preocupou em trazer seus personagens para o limite da realidade, onde eles ficam ali todos centrados em tons de cinza e longe do maniqueísmo cotidiano com o qual já estávamos acostumados. Tendo dito isso, é com grande prazer e sem nenhum receio que afirmo que 1 Contra Todos pode ser chamada de Breaking Bad brasileira, salvo é claro as proporções devidas.
Produzida pela Fox, com roteiro de Thomas Stavros e a direção de Breno Silveira, 1 Contra Todos conta a estória (não é história) de Cadú (interpretado pelo excelente Júlio Andrade), um jovem e honesto rapaz que trabalha como defensor público (Bela ironia) e acaba sendo acusado de um crime que não cometeu tendo sua vida destruída em função da mídia sensacionalista, maniqueísta e sanguinária que por sua vez teima em reforçar sua figura como a do “Doutor do Tráfico”. Assim sendo, Cadú acaba sendo enviado para um presídio no interior de São Paulo, onde para sobreviver terá que encarnar o personagem que todos acham que ele é.
A série possui falhas, claro, porém nada que consiga ofuscar a genialidade do roteiro, tão pouco as atuações estupendas e originais do elenco. Aqui nós não vemos frases corrigidas gramaticalmente, os personagens realmente falam como que se estivessem em um presídio, alheios a qualquer coisa que não seja se manter vivos. Embora possua um tom ultrarrealista, alguns eventos podem parecer convenientes demais, uma explicação para isso seria a tentativa do diretor em criar um certo dinamismo no roteiro, algo de fato não podemos negar que funciona muito bem.
Os personagens por sua vez são o ponto central do plot, aqui eles não são o fio condutor da trama, muito pelo contrário, a trama é quem é usada para desconstrui-los nos mostrando um lado mais existencialista do ser enquanto os deixa menos definidos em os embuti e complexos tons de cinza.
A química da atuação entre Júlio (Cadú) e Julia (Malú)é simplesmente absurda, no decorrer de toda a estória vemos a transformação não só de Cadú (que pega gosto pelo poder), mas também de sua esposa (Malu)que chega ao limite da razão e acaba tomando decisões extremas no intuito de ajudar o marido. China (Thogun Teixeira), o braço direito do “Doutor do Tráfico” é um dos maiores destaques da série, ao longo dos eventos vamos entendendo melhor o personagem e descontruindo a visão binária de um criminoso cruel para algo mais abstruso e humanizado.
De longe vemos mais que um drama que descontrói a realidade da moralidade do ser diante das circunstancias, vemos também uma dura critica social sendo levantada e que permeia por todo o show, seja ao jornalismo maniqueísta e criminoso que ainda é muito comum e popular na TV brasileira, seja a maneira como funciona o sistema judiciário, penal e carcerário nesse nosso tão maravilhoso país. De fato, uma série para se ver, rever e ver de novo quantas vezes for necessário, um produto de qualidade.