O Tinder e Eu

Um relato de minha aventura

Como eu cheguei ao Tinder
Eu tinha 17 anos, minha irmã 16. Ela sempre estava acompanhada de belas amigas, colegas do colégio, para as quais inclusive ela sempre teimava em me apresentar. Em um desses eventos, porém, eu fiquei tão desconcertado que saí correndo enquanto ela me apresentava sua mais recente amiga, depois dessa ela simplesmente parou de tentar me socializar.
Eu nunca tive problemas com mulheres, quero dizer, embora extremamente tímido e meio que antissocial, sempre houve gurias me mandando recadinhos (aquelas cartinhas cheias de ‘I love you’ e frases de efeito amorosas dos anos 90). Porém por alguma razão eu nunca dava muita importância, até que finalmente achei uma guria por quem me interessei e quando fui tentar conquista-la, tomei o maior fora da história que a humanidade já viu. Compreendi então que, o problema era que; eu não gostava de ser escolhido... Eu queria escolher.
Já com 25 anos, percebi que o número de cartinhas e de garotas interessadas diminuiu, vindo a ficar quase extintas aos meus 28 anos. Hoje com 30, se eu quiser sair com alguém tenho que lutar pra isso, nada mais de convites e recadinhos. Uma clara evolução na idade no que se refere ao fator social, quanto mais velho você fica, menos atraente você parece (Ao menos para a maioria das garotas mais jovens). Mas será que isso é uma verdade inquestionável? É uma das coisas que vamos discutir, afinal de contas, ser atraente não depende só da figura do observado, mas também do observador, assim sendo, um rapaz de regata, brinco e undercut deve ser atraente para um tipo de mulher enquanto a outra pode preferir um cara de cavanhaque, sport fino e cabelo social.
Com tempo, paciência e muita observação eu analisei as nuances do comportamento social e descobri algo um tanto óbvio; Nada é tão simples quanto parece ser. Devido a minha enorme falta de coragem (também chamada de covardia, por alguns) de iniciar uma conversa direta com mulheres próximas a mim, resolvi aderir a uma intrigante (e emergente) ferramenta de relacionamentos modernos, o famigerado Tinder.

O que é o Tinder?
Sabe aquela guria da escola/faculdade que você acha interessante, que também curte os seus gostos (Ela adora cinema, séries e quadrinhos) e que é o seu tipo, mas que vocês jamais trocaram sequer uma palavra porque nunca houve uma oportunidade ou situação que possibilitasse isso? Pois é, você já deve ter ficado imaginando se ela também sentia o mesmo por você, afinal de contas ela sabe que você tem os mesmos gostos dela e que se combinam em certos aspectos. Já imaginou quantas pessoas existem por ai que combinariam com você, mas que você jamais saberia a menos que tivesse os poderes telepáticos do professor Xavier?
O Tinder surgiu em setembro de 2012 e em meados de 2014 já contava com 100 milhões de usuários no mundo todo, mas afinal de contas como esse troço funciona?
Na verdade é tudo bem simples, você baixa o aplicativo na App Store e instala em seu Smarthfone, ao se logar ele vai “subir” em seu banco de dados o seu perfil do Facebook e cruzar com os perfis de outras pessoas que estejam “configuradas” dentro de sua “zona de interesse”. Você pode estabelecer restrições por idade, sexo e distancia.
O funcionamento é bem simples, você terá uma tela onde aparecerão as fotos das gurias/guris e você irá (na maior demonstração de futilidade e superficialidade possível) escolher em quem você vai ou não dar um like.  Se gostou clica no coração verde, se não clica no X, bem simples.
As curtidas são anônimas, ou seja, se você der Like em alguém e a pessoa não curtir você, ela nunca saberá que você a curtiu. Por outro lado, se ambos se curtirem surgirá a famosa tela de Match (Vocês Combinam);
E ai vocês poderão conversar reservadamente a partir dai, meus queridos... O poder é de vocês.

Eu, eu mesmo e o Tinder
Não podemos falar em Tinder sem falar em; Superficialidade, arrogância, ego, carência e uma série de outros fatores que estão presentes no uso continuo do aplicativo.
Ora, não estou problematizando nada, mas a minha longa experiência com o App me fez perceber uma série de detalhes que de outra maneira jamais poderiam ser observados. Desde que ingressei no aplicativo (no final de 2015) até agora (final de 2016), já tive mais de 80 Combinações.
Puxa, então você já saiu com mais de 80 garotas em menos de 1 ano, só pelo Tinder?
Calma, meu caro Padawan, as coisas são um pouquinho mais complicadas. Para entender melhor, vamos destrinchar a lógica por detrás do App.
Estamos em meio a uma nova era; Hoje não temos mais tempo para as pessoas, estamos ocupados demais com nossos Cursos, nosso trabalho, nossas contas. Estamos sem tempo para o contato real, olho no olho, uma conversa profunda que arranca suspiros da alma e é ai que o Tinder nos pega.
Superficialidade não é diretamente a intenção do aplicativo, mas acaba funcionando por esse caminho. As pessoas (sem generalizar, é claro) ali não querem conhecer o amor da vida delas por um App na internet, elas querem diversão passageira, uma pessoa bacana pra curtir um momento. Ou seja, como os usuários não estão preocupados em avaliar a outra pessoa profundamente, eles acabam analisando apenas as fotos do perfil do sujeito deixando de lado os dados como; Gostos pessoais, interesse cultural e etc. O que gera situações como em que; Os dois curtiram suas figuras físicas, mas as suas personalidades/gostos/interesses não tiveram nada a ver, limitando a conversa a um rascunho de 8 linhas no máximo e finalizando com um; “a gente se fala”.
Entende, agora? Das mais de 80 mulheres que conheci, 29 delas saíram do bate papo do aplicativo para o Whatsapp (Onde normalmente se inicia a segunda fase da coisa toda).
Nessa segunda fase há ainda mais um filtro. Agora você tem 29 mulheres que você conhece pouco a respeito e tem que as entender, conhece-las e conquista-las. Porém mulheres são ricas em personalidade e particularidades, nada das super dicas do Eduardo Santorini, as mulheres originais não caem nessa. Mas então, o que fazer?
Bem, em meu caso, dentre essas 29 mulheres o diálogo fluiu o suficiente pra marcar de sair com 8 delas.
Mas e ai, Fred? O que aconteceu, você saiu com as 8?
A resposta é; Não.
Dessa 8 mulheres eu acabei perdendo o interesse por 4 e desmarquei o encontro logo em seguida, ora pois, devo dizer que de fato, em último momento eu descobri que não estava preparado para um lance tão superficial quanto o que estava se firmando.
Porém foi ai que percebi que ainda havia mais um filtro; o aprofundamento emocional. Como eu supracitei mais acima, o Tinder é recheado de superficialidade,  ego e carência. Após passar pela fase da superficialidade, onde as pessoas não tem nada pra conversar pois acabam se vendo em uma situação rasa demais, temos agora a questão do ego, ora pois, está claro que muitas pessoas estão ali apenas para alimentarem seus egos, serem elogiadas, conquistadas, nada além disso, o que nos leva a mais um filtro; a carência.
Enquanto o ego e a superficialidade voltam o individuo para um mundo completamente visual, onde tudo se resume a perfeição da aparência, a carência por sua vez surge como uma forma de dar uma oportunidade aquelas pessoas de verem algo mais que beleza uns nos outros, possibilitando assim a introdução de diálogos mais orgânicos, confissões e conversas cada mais vez mais aprofundadas, iniciando ali o desenvolvimento de um relacionamento real.
Foi assim que; das 4 mulheres que foram comigo para o último filtro do Tinder, apenas 1 ficou até o final.

Mas o que isso tudo significa?
Bem, o que tudo isso significa é que eu não sou dono de nenhuma verdade, assim como toda a experiência no Tinder é individual. Porém, com base em minha análise pessoal pude levantar algumas constatações, algumas óbvias e outras nem tanto, bora lá?
Cuidado com Superficialidade/Aparência/O que você vende
Assim como na vida fora da internet, muitas pessoas buscam alguém de boa aparência e que esbanje ostentação nas fotos do perfil. Para tais, importa o que você vende ser e não quem é de verdade.
Saiba o que procura
Se você procura um lance, analise perfis que sejam coerentes com sua busca, se procura algo mais sério, faço a mesma análise com perfis relacionados. Nunca tente forçar um dialogo do tipo B com a pessoa do A ou vice versa, nunca vai dar certo.
Respeite as pessoas
Muitas das mulheres com as quais eu conversei no Tinder sempre me falavam da maneira tosca como eram tratadas pela maioria dos homens no aplicativo.
“Eles já começam pedindo nudes e chamando a gente de gostosa, eu não gosto disso”
Respeito é sempre o primeiro passo pra se progredir em uma conversa. Quer intimidade com a guria, conquiste essa intimidade primeiro.
Idade não é experiência, mas faz a diferença
Percebi que de todas as mulheres com as quais conversei, nenhuma das conversas tiveram mais de 8 linhas com aquelas com a idade entre 18 e 22 anos(Lembrando que tenho 30 anos). Porém com as que estavam entre 25 e 30 anos a conversa fluiu naturalmente na maioria dos casos. Se você é um quarentão é meio difícil encontrar uma guria de 20 que tenha a mesma linha de pensamento e diálogos que você, o mesmo vale para você tem que 20 anos, muito raramente suas ideias baterão com as de uma mulher de 40, não que isso seja regra, mas há muitas diferenças de pensamento que são produtos da idade/experiência de vida de cada um e que se observadas com sucesso podem ser a chave para uma conversa mais produtiva.

Então é isso, gente. O Tinder é um ótimo aplicativo e pra quem sabe usar, pode sim conseguir a metade da sua laranja que tanto procura, ou também conseguir aquela companhia casual pro cinema no fim de semana que queria. Assim como na vida real é tudo uma questão de ter bom senso.