Preacher [Piloto] – Critica


Um pouco sobre a Graphic Novel
É inacreditável a quantidade de obras advindas das HQs que estão se tornando vendáveis quando adaptadas pra TV, nos dias atuais. Isso tudo de certa maneira tem a ver com ascensão da cultura nerd nos últimos anos, pois de certa forma o sucesso desse nicho nas telonas reverberou também nas telinhas o que nos proporcionou a possibilidade de ver personagens “menores” que dificilmente seriam adaptados pro cinema ganhando foco nas telinhas.
Depois de sucessos recentes como Flash, Demolidor e Jessica Jones temos a adaptação de uma das obras que pode ser taxada de no mínimo controversas. Preacher trata-se de uma HQ (Uma Graphic Novel pra ser mais preciso) lançada em 1996 pelo selo Vertigo da DC Comics, escrita por Garth Ennis e desenhada por Steve Dillon acabou se tornando um nicho dos nichos, pois a obra underground até mesmo dentro do meio nerd.
Na obra original Jessie Custer é um pastor de uma igrejinha no interior do Texas, um cara complexo e cheio de tons de cinza que procura um caminho pra se encontrar, algo como uma definição pra si mesmo enquanto luta contra quem ele acredita ser de verdade. É depois de uma briga em um bar que ele acaba recebendo a entidade (Meio anjo meio demônio) que concede certas habilidades como a de mandar qualquer um fazer literalmente o que ele verbalizar.
A Graphic novel é extremamente suja, violenta e com piadas das mais ofensivas possíveis, portanto se você é do tipo religioso, passe longe tanto da obra original quanto da adaptação pra TV da qual iremos falar agora.

Crítica do Piloto da Série de TV
Interpretado pelo infame Dominic Cooper (Já estou com saudades, Stratton, a Senhora da Van), na série temos um Jessie Custer mais humanizado onde podemos facilmente notar as nuances de seus sentimentos que se projetam em condições e comportamentos como o fato de ele ser depressivo e ultra violento simultaneamente.
O piloto assim como todo piloto tem o difícil trabalho de nos vender parceladamente uma estória (se você não sabe a diferença dentre história e estória você precisa ler mais) que precisa de vários episódios para se contextualizar, no entanto, ainda assim ele não falha. Temos ali várias referencias a Graphic Novel assim como personagens muito bem adaptados como é o caso da Tulipa (Ruth Negga) e do maluco irlandês Cassidy (Joseph Gilgun).
Os personagens são apenas arranhados nesse primeiro episódio, algo mais que compreensível em se tratando de uma obra que certamente tentará ser tão densa quanto a original. Aqui  vemos o cuidado que Evan Goldberge Seth Rogen tiveram com a produção a ponto de não tornarem suas versões apenas arremedos dos personagens originais, mas também os colocarem no limiar do crível, vendendo suas ações como algo dentro do escopo da realidade ainda que tudo seja tão inacreditável e surreal.
A trama remonta todos os problemas enfrentados por Custer enquanto brinca de pastor em Annville no Texas, só aqui vemos a possibilidade de termos um personagem mais aprofundando, mais denso, não que a GN não tenha feito isso, mas a impressão é a de que a série tende para um lado mais humanizado e menos sobrenatural, onde possivelmente veremos eventos sobrenaturais ocorrendo em segundo plano enquanto em primeiro teremos os conflitos existências dos personagens definindo o desenrolar da história.
A AMC simplesmente pegou um trabalho que parecia impossível e o tornou real, a adaptação de uma obra de terror e ação como Preacher requer mais que criatividade, requer coragem e nenhum medo de errar, pois as chances são gigantescas. Assumindo que no decorrer da série os personagens terão que lidar com os mesmos problemas já vistos na GN, é de se esperar que o alcance da série seja limitado, pois por mais bem adaptados que esses eventos estejam eles ainda assim serão de um impacto indescritível para o grande publico que por sua vez certamente não é o alvo dos produtores, pois estamos falando aqui de Rogen. Ou seja, muitas piadas de “mau gosto”, cenas grotescas e eventos bizarros irão tomar de conta de sua tela e isso é algo que de fato ainda não havia acontecido antes nas telinhas, o que nos faz imaginar que Preacher (A série) será tão de nicho quanto Preacher (A Graphic Novel), ou não, muito pelo contrário.
Como conclusão podemos observar que Preacher (A série) não é uma Supernatural (A série), nem tão pouco uma Constantine (A série), o que temos aqui é ainda terreno inexplorado, não espere por heróis lutando e dando a vida pela humanidade ou vilões bonzinhos que resolvem se redimir no final das contas, Preacheré pesado, é sujo e é grotesco e se continuar assim, será uma das melhores adaptações da uma obra de Quadrinhos/Graphic Novel que já vimos.