True Detective : A Segunda Temporada Cumpre o que promete

Se você estava esperando uma jornada introspectiva filosófica, dilemas morais pertinentes e um ensaio sobre a espiritualidade do ser, então é melhor não conferir essa segunda temporada de True Detective.
Muito diferente da primeira, a segunda temporada trouxe uma pegada completamente nova (E realmente detetivesca) no que se diz respeito tanto aos personagens quanto ao foco principal da trama, no entanto, não me recordo de em algum momento ter lido que Pizzolatto pretendia refilmar a primeira temporada com atores diferentes, o que de certa forma me faz aceitar com menos amargo uma série que em nenhum momento prometeu se prender a suas raízes.
Sim, meus amigos, a interação entre Rust Cohle (Matthew McConaughey) e Martin Hart (Woody Harrelson ) assim como os rumos de sua trama foram excelentes, no entanto nem de longe isso deve reduzir o mérito do trabalho de Pizzolatto nesse sua segunda empreitada, até mesmo porque, no final das contas toda essa aceitação negativa dessa segunda temporada me parece mais com frustração pessoal de quem queria mais do mesmo do que uma crítica abalizada do material.
Trabalhando com o dobro de personagens centrais, dessa vez Pizzolatto não deu muita importância para a trama principal, deixando-a mais como uma trilha para conduzir nossos personagens enquanto os mesmos resolvem seus dramas pessoais a medida que conversam com o espectador.
A série abandona se estilo contemplativo e quase onírico e adota algo mais noir, aqui vemos a depressão de seus personagens refletidas no ambiente, uma cidade cinzenta, sem esperanças, afundada em corrupção e sujeira.


Ray Velcoro (Colin Farrell )encarna um tira já em fim de carreira, suas decisões o levaram a um cenário de onde não se pode ver escapatória, ao mesmo tempo que repudiamos sua atitude, podemos perceber que dentro de todo aquele desespero ainda há uma ponta de esperança, que acaba por se projetada em seu filho, a única coisa que ainda mantém Rayde pé, visto que toda sua vida, interesses, carreira nem nada mais tem alguma importância. Ray é praticamente uma antítese de seu companheiro Paul Woodrugh (Taylor Kitsch), que por sua vez encara dramas completamente diferentes, mas não menos abstrusos, que inclusive, se bem explorados poderiam ter criado um cenário interessante.
Porém apesar de Velcoro e Frank, o foco mesmo está em Ani Bezzerides (Rachel McAdams), que aliás não foi muito bem aproveitada durante toda a série, deixando seu drama de maneira jogada e inexplorada, o que acaba por gerar uma enorme dificuldade de se “falar” com a personagem, algo que já não ocorreu com  Frank Semyon (Vince Vaughn), que teve bastante destaque na trama, onde podemos acompanhar com precisão cirúrgica seus conflitos pessoais e profissionais, que aliás, caem em uma amalgama imensurável no último episódio, onde finalmente completa-se o ciclo do personagem e podemos notar a origem de todos os seus males.
Muito se falou das falas pretenciosas de Pizollatto, da trama desnecessariamente densa e da falta de contato entre os personagens centrais, de fato, esses são pontos que poderiam ter mudado o resultado final da série. Mas ainda assim, não foram eles que a estragaram, oras, quem disse que ela foi estragada?
A trama principal é tão desnecessariamente confusa que mesmo investindo pesado horas de pesquisas e investigações junto aos detetives da série, ainda assim você não conseguiria compreende-la por completo, para isso tem que ser realmente um Detetive de Verdade(Desculpem, eu não resisti). Os personagens coadjuvantes são simplesmente jogados em sua frente como meros bonecos de pano, sendo manejados convenientemente a maneira que o roteiro exigir, o que de certa forma causa uma certa frustação pois quando você finalmente encontra o assassino tão procurado durante toda a série tudo o que você irá pensar é; “Quem diabos é esse cara?”

Essa dificuldade de Nic em manter relações mais estreitas dentro da própria trama principal e ainda mais em ligar os dramas pessoais de cada um com a mesma gerou um certo desconforto, mas nada que se possa dizer que tenha estragado a série por completo, longe disso, True Detective tem suas mensagens e consegue passa-las, talvez não com a destreza de sua primeira temporada, mas ainda assim de maneira competente.
No fim, Pizzolatto nos entregou uma série que mais se parece um filme policial noir com Ray Velcoro no lugar de Al Paccino, porém assim como muitos pontos fracos também é possível achar pontos fortes. Farrel convence como um badass e se sai melhor que o esperado, Vaughn por sua vez, acredito que faz mais do que eu poderia imaginar e se não vendeu a imagem de gangster depressivo que tentou passar, não diria que foi inteiramente culpa dele.
O jeito é esperar uma possível terceira temporada e ver o que Nic tem a nos mostrar, para alguns fãs atônitos da primeira talvez ele faça um pedido de desculpas, para quem não odiou a segunda talvez seja mais do mesmo, mas no fim, sempre será True Detective.