O Juiz (The Judge) - Crítica


Como já diria o eterno Chaves; O Juiz é um filme que parece de Tribunal, se desenrola como um drama familiar e tem sabor de redenção.
Aqui temos Robert Downey Junior fugindo um pouco, só um pouco de seu tão famigerado Tony Stark e contracenando com o veterano Robert Duvall. O que podemos dizer de início é que a dupla de ‘Xarás’ não deixam a desejar e como já era de esperar seguram o filme muito bem.
Tudo começa quando Hank Palmer (Robert Downey J.r) recebe uma ligação, sua mãe faleceu. Ele então tem que voltar a pequena e pacata cidade do interior onde cresceu, coisa desagradável para ele que é um advogado muito bem sucedido e já está acostumado com os “prazeres” da cidade grande.
Com sua volta a velha cidade, Palmer revive momentos de sua infância e adolescência ao lado de irmãos e antigas companhias, tudo desembocando em uma série de conflitos e ressentimentos ao ponto que vemos os personagens ingressarem em uma viagem ao seu interior no intuito de se autocompreender nos trazendo essa exteriorização de sentimentos tão importantes para desvenda-los.
Palmas para o roteiro de Nick Schenk Bill Dubuque que somado a direção de David Dobkin consegue de uma maneira suave e fluida intercalar cenas de humor logo seguidas de drama, sem nada parecer forçado.
Há quem se engane e pense que O Juiz é um filme sobre tribunal, mas não é. Muitas são as subtramas que envolvem tal película, alguns talvez nem tão necessárias, porém tudo o que se vê acaba tendo um proposito em algum momento, criando assim um dinamismo próprio que não deixa seus 181 minutosparecerem chatos mesmo sem sequer uma explosão ou único tiro.
Juiz é um filme sobre redenção, valores familiares, decisões na vida e o elenco composto por Vincent D´Onofrio e Jeremy Strong como respectivamente Glen Palmer e Dale Palmer como irmãos de Hank Palmer consegue dar a carga dramática suficiente para compor o drama que o núcleo familiar precisa. Todos os personagens são muito bem trabalhados, principalmente ao nível que se aproximam do cerne da trama, o Juiz Joseph Palmer (Robert Duvall) é uma clara referência ao americano idealista, honrado e conservador. Diante de seu filho Hank, podemos ver um grande contraste tanto de ideias quanto de estilo de vida, tendo assim um choque severo de gerações onde vemos em paralelo o sofrimento de dois homens ao perderem suas esposas de forma diferente, enquanto o pai Joseph viveu a vida inteira com sua esposa e só se separou diante da morte, seu filho Hank acaba se separando da sua em função de uma traição da mesma, contrastes de estilos de vida e valores diferentes e que aparentemente acabam tendo como reação moldar o caráter pessoal de cada um diante de tais circunstâncias.

Ao mesmo tempo em que vive o drama da perda da mãe, que devido a distância e falta de contato aparentemente não tem um impacto tão grande em Hank, o mesmo vive inúmeras tramas paralelas como a possível descoberta de uma filha de 20 anos (pode parecer spoiler, mas não é), o atrito com Glen, o seu próprio divórcio e a retomada de relacionamento com sua ex do colegial. Vemos então Hank perdido e confuso, ao mesmo passo que se demonstra completamente forte e inabalável. O pai deixa claro sua desaprovação pela pessoa que Hank se tornou, ao ponto que o mesmo demonstra de forma clara a ‘desimportancia’ que tem seu teu pai diante de seu estilo de vida ‘american way of life’. O filme então ao longo da trama desenvolve esses relacionamentos nos mostrando que nem tudo é o que parece e nos apresentando cada personagem além de sua camada superficial, extraindo assim de cada um seus reais valores, tristezas, ódios e amores.

Por fim, O Juiz é um drama que vale a pena ser assistido, embora muitos digam que tenha sido um filme pretencioso, temos que admitir que o longa fez jus a tal pretensão, embora não fugindo da maioria dos clichês do gênero, Dobkin nos entrega uma obra que lida bem com esses clichês, os rearranjando de uma maneira que além de não atrapalhar ajudam a fluidez da trama e a maneira de como a história deve ser contada.