A Entrevista (The Interview) - Crítica



Se você não esteve em coma ou foi abduzido por extraterrestres do mal nos últimos meses, certamente deve estar por dentro de toda a quizumba envolvendo o ‘hackeamento’ da Sony, os E-mails vazados, as negociações entre Sony e Marvel e o mais divertido disso tudo...O caso envolvendo a mais nova produção da SonyA Entrevista.
O filme esteve sendo alvo de crítica por toda a internet no início de janeiro, incluindo uma nota de 47% no Rotten Tomatoes, mas será que o alvoroço é pra tanto? Alguns dizem que tudo não passa de uma grande jogada de marketing da Sony, outros dizem se tratar realmente de Kim Jong-Un mostrando aos EUA que tem colhões.
Sob ameaças de atentados as salas de cinema que viessem a exibir o filme, nenhuma sala quis correr o risco e a Sony tomou a atitude (A pedido do Obama) de não censurar o filme e ainda exibi-lo, não em salas de cinema mas como um produto digital (Xbox Vídeo, Google Play e etc), desta forma o filme se encontra disponível para qualquer um que resolva pagar por ele.
Mas e o filme, é realmente tão ruim assim? Bem, vamos a nossa breve resenha sobre esse danado.
Dirigido por Seth Rogen Evan Goldberg, que já vem há algum tempo com esse lance de ‘filminhos entre amigos’, A Entrevista é uma comédia mediana no entanto se destaca em alguns quesitos que certamente iremos mencionar aqui.
A trama é a mais simples possível, o produtor de TVAaron Rapopor, interpretado pelo próprio Seth Rogen e o apresentador Dave Skylark, encarnado por James Franco acabam tendo a chance de entrevistar a figura política mais pop do momento, o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-Un. Acontece que quando a CIA fica sabendo resolve aproveitar essa oportunidade pra transformar a dupla de palermas em agentes que irão assassinar o cabelo de tigela.
E é com essa premissa que todo o filme se desenrola, Rogen deixa claro o tipo de comédia que temos aqui pois em nenhum momento ela difere de seus outros trabalhos anteriores. O filme tem um humor ácido na medida em que quem já está acostumado com seu trabalho não irá se surpreender, piadas escatológicas e o velho ‘bromance’ marca registrada da turma de Rogen estão presentes aqui.
Eu avisei que todos aqueles pasteis de flango iam de te dar dialeia
Uma das coisas interessantes sobre esta película é a maneira como a qual as piadas foram inseridas. Embora por vezes possamos notar uma ou outra piada jogada, em sua maioria são muito bem colocadas e equilibradas e diferente do que dizem alguns sites por ai, em nenhum momento pude perceber qualquer tipo de ofensa real ao povo Norte Coreano, o que temos ali é uma clara avacalhação com sua política ditatorial e com o Regime de Jong-Un.
Rogen não economiza sátiras, seja da cultura Norte Coreana seja da Norte Americana. O personagem de FrancoDave Skylark é mostrado como um completo idiota, uma clara sátira do apresentador babaca de programa de fofoca da TV aberta, não tendo nenhum conhecimento cultural ou acadêmico e se mostrando com alguém inteiramente superficial. Temos duas cenas que demonstram isso de forma engraçada, em uma tomada ao saber que Skylark entrevistaria Kim o apresentador americano Bill Maher diz: “Aposto que Skylark acha que Kim Jong-Un é o cara do oppa gangnam style”. O próprio Skylark ao ser recebido na Coreia do Norte solta um “Konichiwa”, expressão japonesa de cumprimento formal, referência ao preconceito e falta de cultura do americano médio ao considerar todos os outros povos irrelevante, inferiores e indiscerníveis entre si.
Aqui não temos personagens densos, muito menos bem elaborados, ambos os personagens Skylarg e Rapopor só estão ali em função da trama, nada além disso. No entanto nada disso atrapalha a diversão do filme. Embora Rogen interprete a si mesmo e Franco passe maus bocados na tentativa de atuar medianamente, nada disso prejudica a narrativa e a história flui de maneira descompromissada e divertida.
Destaque para Kim Jong-Un interpretado por Randall Park que está sensacional, talvez por não termos nenhuma base de referência do verdadeiro ditador, mas Park consegue passar a sensação tanto de compreensão quanto de desconforto ao colocar o espectador de frente com as nuances humanas e ao mesmo tempo monstruosas de Jong-Un.
Contrariando os grandes sites abalizados que desceram a lenha na produção da Sony, considero A Entrevista é um filme OK. Seus 112 minutos são muito bem aproveitados e é valido lembrar que não é cinema para reflexões filosóficas e sim uma película adulta com muito humor negro e tiradas que da perspectiva de um crítico de 90 anos seriam taxadas de ‘muito mau gosto’.